Month: August 2007

O Contrato

A Bíblia, como livro, nos fala do passado, mas como Palavra de Deus fala sobre o hoje, sobre as nossas vidas. Não é um livro de auto-ajuda (pelamordedeus, quem diz isso ou nunca leu a Bíblia ou nunca leu um livro de auto-ajuda, ou ambas as alternativas anteriores), porque é um contrato que envolve duas partes. Nada do que está escrito ali funcionaria se não houvesse a participação de Deus também. Pode ser um livro de Alto-ajuda…risos…ajuda do alto.

A parte do homem é maior do que o que se costuma pensar. Sim, Deus é onipotente, onisciente e onipresente, a gente sabe, mas Ele também deu capacidade de escolha ao homem e respeita cada uma de suas escolhas. Ele é poderoso, mas não é invasivo. Se o homem escolhe um péssimo caminho (mesmo que aos olhos da criatura pareça bom), Deus não vai obrigá-lo a nada. Pode mostrar a ele qual é a melhor saída, mas é ao homem que pertence a escolha. Deus não brinca de marionetes, nós temos grande responsabilidade.

Em Jeremias 7:21-28 há um exemplo disso, Deus falando sobre a quebra da aliança por parte do povo. Ele é o Pai ao qual devemos respeito e que nos ensina o caminho em que devemos andar, nós somos os filhos, nosso papel é aprender com Ele, tentar crescer, respeitá-lo e obedecer, sabendo que Ele nos ama e quer nosso bem.

Aliás, Jeremias 7:23 mostra o quanto é simples o que Deus pede a seus filhos: “Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; andai em todo o caminho que eu vos ordeno, para que vos vá bem.”

Se flexibilizamos a nossa ética, buscando jeitinhos e atalhos para fazer as coisas como achamos que devemos fazer, ele se entristece, mas tem de permitir que nos afastemos. E longe dele, estamos expostos a qualquer coisa.

“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios e comei carne. Porque nada falei a vossos pais no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; andai em todo o caminho que eu vos ordeno, para que vos vá bem.

Mas não deram ouvidos, nem atenderam, porém andaram nos seus próprios conselhos e na dureza do seu coração maligno; andaram para trás e não para diante. Desde o dia em que vossos pais saíram da terra do Egito até hoje, enviei-vos todos os meus servos, os profetas, todos os dias; começando de madrugada, eu os enviei.

Mas não me destes ouvidos, nem me atendestes; endurecestes a cerviz e fizestes pior do que vossos pais. Dir-lhes ás, pois, todas estas palavras, mas não te darão ouvidos, chamá-los ás, mas não te responderão. Dir-lhes-ás: Esta é a nação que não atende à voz do Senhor, seu Deus, e não aceita a disciplina; já pereceu, a verdade foi eliminada da sua boca.”

Deus mostra à criatura o caminho, faz uma proposta incrível: se ela andar em Seus caminhos e der ouvidos à Sua voz, Ele será seu Deus e ela será dEle! Isso não é uma coisa virtual, é algo extremamente prático: se Ele é meu Deus, eu vou seguí-lo, obedecê-lo, respeitá-lo, aprender com Ele e Ele me guiará, me protegerá, irá à minha frente em minhas batalhas, me dará vitória. Ele faz o impossível, não está limitado às leis da física, não está limitado a nada. Ter alguém assim do meu lado vale qualquer sacrifício, inclusive o de abrir mão da minha vontade para fazer a vontade dEle. Quando Israel estava firme com Deus, vencia qualquer batalha, inclusive as mais absurdas, um punhado de israelenses destruía milhares de malucos do exército inimigo, muralhas fortíssimas eram derrubadas com gritos e toques de trombetas…

O coração endurecido e orgulhoso acha que os atalhos são idéia melhor e ignora a proposta de Deus. Não dá ouvidos à voz do Senhor e, logo, Ele não pode se considerar Deus dessa pessoa, nem essa pessoa pode considerá-lo seu Deus, porque não há aliança, não há compromisso entre eles. Deus não aceita um “relacionamento aberto”, Ele exige exclusividade, porque um de seus valores é a fidelidade, e o compromisso assumido entre criatura e criador só é quebrado pela criatura.

Então, a pessoa pode continuar acreditando que Ele é seu Deus e fazendo rituais religiosos, orando, falando de Deus, seguindo ritos e freqüentando templos, mas se em seu coração ela rompeu essa aliança ao andar por seus próprios caminhos, Ele não pode cumprir sua parte do trato, pois este foi rompido. O que acontecer depois da ruptura, jamais pode ser cobrado de Deus, pois é responsabilidade da criatura, que revogou a procuração que havia passado a Ele.

No entanto, assim como a quebra do contrato depende do homem, reconstruir essa aliança também é trabalho da pessoa. Deus é justo, se o mesmo coração duro enxergar o erro, se arrepender, pedir perdão e se consertar diante de Deus, refazendo o pacto de ouvir sua voz e seguir seus caminhos, Deus volta a ser com ela. Ele diz “tornai-vos a mim e eu me tornarei a vós” (Malaquias 3:7) Quem se afastou é que retorna. Ele está ali, no mesmo lugar, esperando. Se dermos o primeiro passo, ele se aproximará. Deus não é humano, Ele não tem magoazinhas, não fica com problema com fulano porque se afastou duzentas vezes dele. Ele vê a sinceridade do arrependimento. Perdoa, lança todas as nossas falhas no mar do esquecimento e elas ficam lá, afogadas para sempre.

No entanto, alguns corações são tão duros, mas tão duros, que até mesmo Deus se indigna:

“Dize-lhes mais: Assim diz o Senhor: Quando caem os homens, não se tornam a levantar? Quando alguém se desvia do caminho, não torna a voltar? Por que, pois, este povo de Jerusalém se desvia, apostatando continuamente? Persiste no engano e não quer voltar. Eu escutei e ouvi; não falam o que é reto, ninguém há que se arrependa da sua maldade, dizendo: Que fiz eu? Cada um corre a sua carreira como um cavalo que arremete com ímpeto na batalha.

Até a cegonha no céu conhece as suas estações; a rola, a andorinha e o grou observam o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do Senhor. Como, pois, dizeis: Somos sábios, e a lei do Senhor está conosco? Pois, com efeito, a falsa pena dos escribas a converteu em mentira. Os sábios serão envergonhados, aterrorizados e presos; eis que rejeitaram a palavra do Senhor; que sabedoria é essa que eles têm?” (Jeremias 8:4-9)

Antes que algum anti-semita fale bobagens: Jerusalém poderia ser qualquer um. Qualquer um que se desviasse dos caminhos, se abraçasse ao erro e não quisesse voltar. E, pior de tudo, insistisse em dizer que Deus está com Ele. Deus não admite participação no erro. E é bem claro:

“Serão envergonhados, porque cometem abominação sem sentir por isso vergonha; nem sabem que cousa é envergonhar-se. Portanto, cairão com os que caem; quando eu os castigar, tropeçarão, diz o Senhor” (Jeremias 8:12)

Alguém pode me dizer que isso fazia parte da velha aliança, do velho testamento, e que depois de Jesus, estamos no tempo da Graça. Sim, é verdade, estamos no tempo da Graça e muita gente acha que isso é motivo para relativizar a ética cristã. Deus diz “eu, o Senhor, não mudo” (Malaquias 3:6). Ele não mudou, ele apenas renovou a aliança, fez um contrato com outros termos, para substituir aquele que havia sido quebrado.

A diferença é que agora temos um advogado diante de Deus: Cristo. Sim, Jesus faz a nossa defesa, mas Ele é uma outra manifestação de Deus, sua ética é a mesma, e sua firmeza também. A diferença é que Ele se entregou em nosso lugar à punição pelo pecado, temos maior facilidade em alcançar a graça de Deus, mas a necessidade de cumprir à risca a regra permanece: dar ouvidos à Deus e seguí-lo, com o plus de também amar ao próximo como a nós mesmos.

Se a criatura estiver errada, abraçada ao erro, sem nem se envergonhar do mal que comete, e ainda dizendo que Deus está com ela, ele vai se indignar da mesma forma, vai se afastar e dar espaço para que coisas ruins aconteçam, pois retirará sua proteção. Jesus se coloca como substituto no castigo para quem o aceita, para quem o recebe como salvador, para quem se volta para ele e se arrepende de seus erros. Ele morreu por todos, mas a substituição só começa a valer quando a criatura assina o contrato, ou seja, o aceita, o recebe e se arrepende. Se Deus não se importasse e não se preocupasse, a Bíblia nem existiria. No entanto, Ele deixa tudo bem claro. O resto, depende de nós.

Essa passagem de Jeremias Deus me mostrou hoje, em resposta à minha oração sobre um problema específico. Juro que não procurei essa passagem, simplesmente orei e abri a Bíblia. Pedi uma palavra, e ele não poderia ter me dado melhor esclarecimento. Ele conhece os corações e, como meu Deus, me dá a chance de tê-lo por mim em cada batalha. É um privilégio incrível ter um Deus que permite aos seus servos tamanha proximidade e companheirismo.

Termino essas anotações agradecendo tudo o que Ele tem feito, o que Ele tem me falado nos últimos dias e a tranqüilidade que Ele tem me dado em saber que está na direção de tudo. Entrego tudo em suas mãos sabendo que não poderia estar em melhor lugar.

Alguns rabiscos sobre a Palavra

É complicado manter um padrão ético em uma sociedade que relativiza tudo. Ética não se relativiza. A Bíblia é um guia seguro de comportamento, que mostra exatamente como Deus é e o que Ele espera do homem. Além disso, conta histórias de todos os tipos, sobre várias pessoas, mas com uma coisa em comum: o caráter de Deus. Existem estudiosos da Bíblia de todos os lados, alguns que questionam cada parágrafo, outros que querem compreender Deus com os critérios humanos, outros ainda escarafuncham a História em busca de algo que possam usar para distorcer cada linha. Outros distorcem as linhas sem buscar nada que os auxilie nesta tarefa.

Não quero fazer estudos científicos da Bíblia, até porque não confio tanto assim na mente e nos conhecimentos humanos. Minha relação com a Bíblia é pautada nos resultados que o que aprendi ali (e continuo aprendendo) traz na minha vida. Tudo o que escrevo parte da certeza de que a Bíblia é a Palavra de Deus e não tento convencer ninguém disso, eu sei que é, e isso é explicado pela experiência pessoal com Deus.

Antes de cada leitura daBíblia, converso com Deus, pedindo que Ele fale ao meu coração, que não seja uma simples leitura fria, mas que seja guiada pelo Espírito Santo. Não há nenhuma experiência transcendental nisso, é apenas a fé, a certeza de que Ele irá me guiar. E Deus é tão vivo e tão real para mim que falar com Ele é como falar com uma pessoa. Não vê-lo fisicamente não faz com que ele seja menos real. Que vida sem graça teríamos se tudo precisasse ser visível para ser real. Arrisco a dizer que a maior parte da nossa vida não existiria se esse critério fosse adotado.

É sobre esse Deus vivo que escrevo, despretensiosamente, neste caderno de anotações que, espero, me ajude a compilar decentemente meus rascunhos.

Sossegai

O título deste blog remete a um hino do Cantor Cristão que sempre foi um de meus favoritos. Este hino fala da passagem bíblica em que Jesus acalma a tempestade(Mateus 8:23-8:26) (Marcos 4:36-4:39) (Lucas 8:22-8:24).

Estavam todos, Jesus e os discípulos, em um barco, em alto-mar. De repente, uma tempestade se formou e agitava o barco violentamente. Jesus continuava dormindo, mesmo com todo o barulho e a força do vento. Os discípulos, desesperados, o acordaram para que os livrasse da morte naquele momento. Jesus os chamou de homens de pouca fé, por não terem percebido que o barco não poderia jamais naufragar tendo Ele a bordo. Não havia razão para temer, muito menos para se desesperar. Então, ele ordenou que as ondas se acalmassem, e a tempestade cessou. Todos se maravilharam porque o mar o obedecera.

O hino do Cantor Cristão traça um paralelo entre essa história e as tribulações que se lançam sobre nós. O barco é a nossa vida, a tempestade são os problemas… se Jesus estiver em sua vida, não há razão para temer nenhum problema, nenhuma tempestade, nenhum ataque. Mesmo que pessoas ruins maquinem o mal contra você, mesmo que haja uma horda de inimigos querendo o seu mal, se Jesus estiver em sua vida essa tempestade jamais poderá te fazer naufragar. Basta uma ordem dele, uma única palavra, e todos os problemas serão obrigados a se curvar. Se você colocá-lo como prioridade em sua vida, buscar conhecê-lo para que ele seja um contigo, não existe razão para temer a tempestade.

Inicio este blog em meio a uma grande tempestade, porém sem medo algum, pois sei que Cristo está em meu barco e as ondas não têm escolha. “Sossegai” é a ordem. Para elas e para mim, pois não há sossego maior do que saber que Ele está no controle de tudo.


Sossegai

Mary Ann Baker (? -1881) Horatio Richmond Palmer (1834-1907)
William Edwin Entzminger (1859-1930)

Oh, Mestre, o mar se revolta,
As ondas nos dão pavor
O céu se reveste de trevas,
Não temos um Salvador
Não se te dá que morramos?
Podes assim dormir,
Se a cada momento nos vemos,
Sim prestes a submergir?

As ondas atendem ao meu mandar:
Sossegai. Seja o encapelado mar
A ira dos homens, o gênio do mal;
Tais águas não podem a nau tragar,
Que leva o Senhor, Rei do céu e mar.
Pois todos ouvem o meu mandar
Sossegai; sossegai.
Convosco estou para vos salvar, sim sossegai.

Mestre, na minha tristeza
Estou quase a sucumbir
A dor que perturba minha alma,
Eu peço-te vem banir.
De ondas do mal que me encobrem,
Quem me fará sair?
Pereço, sem ti, ó meu Mestre,
Vem logo vem me acudir.

As ondas atendem ao meu mandar:
Sossegai. Seja o encapelado mar
A ira dos homens, o gênio do mal;
Tais águas não podem a nau tragar,
Que leva o Senhor, Rei do céu e mar.
Pois todos ouvem o meu mandar
Sossegai; sossegai.
Convosco estou para vos salvar, sim sossegai.

Mestre, chegou a bonança,
Em paz eis o céu e o mar
O meu coração goza calma
Que não poderá findar
Fica comigo, ó meu Mestre,
Dono da terra e céu,
E assim chegarei bem seguro
Ao porto, destino meu.

As ondas atendem ao meu mandar:
Sossegai. Seja o encapelado mar
A ira dos homens, o gênio do mal;
Tais águas não podem a nau tragar,
Que leva o Senhor, Rei do céu e mar.
Pois todos ouvem o meu mandar
Sossegai; sossegai.
Convosco estou para vos salvar, sim sossegai.